sábado, 27 de julho de 2013

Negociações para VLT estão paradas

07/07/2013 - Diário do Nordeste - Fortaleza

Das dez estações previstas, uma segue, no entanto, com trabalhos avançados. É o ponto da Vila União, na Avenida Borges de Melo FOTO: JL ROSA

A corrida agora é contra o tempo. Faltam apenas 11 meses para a Copa do Mundo de 2014 e as expectativas em torno das obras de mobilidade urbana só crescem. Entretanto, conforme monitoramento atualizado pela Secretária de Infraestrutura do Ceará (Seinfra) apenas 30% das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) estão concluídas. Um entrave, no entanto, promete atrasar ainda mais os processos: só 1/4 das desapropriações foi efetivada na Capital (553 de um total 2.185 previstas) e 75% seguem paradas.

Das dez estações previstas, uma segue, porém, com trabalhos avançados. É a estação Vila União, na Av. Borges de Melo. O vaivém de máquinas, os barulhos e as intervenções já mudam a paisagem e deixam todos curiosos. Vendo da janela da casa toda essa movimentação, o autônomo Alberto da Silva, 47, questiona: "mas, será que esse VLT vai ficar pronto mesmo?". Assim como ele, maioria da cidade parece almejar andar no modal.

A promessa da Seinfra é que a estação Vila União seja a primeira a ser entregue, ainda neste ano. A estimativa é que todo o trecho do Ramal Mucuripe-Parangaba do VLT esteja finalizado ainda no primeiro semestre de 2014, a tempo dos jogos da Copa do Mundo em Fortaleza.

Dados mais atualizados da Seinfra apontam que, hoje, seis estações (Antônio Sales, Mucuripe, Pontes Vieira, Parangaba, Vila União e Iate) seguem ativas e apenas quatro (Montese, Rodoviária, São João do Tauape e Papicu) estariam paradas.

O VLT cruzará 22 bairros de Fortaleza e beneficiará cerca de 100 mil pessoas por dia quando em operação. Estão sendo investidos R$ 276,9 milhões. São 20 frentes de obras em execução ao longo de toda a linha Parangaba-Mucuripe.


Desapropriações

Obra alvo de polêmicas, uma questão segue como entrave para o avanço: desapropriações. Muitos moradores se negam a sair das suas casas, outros reclama da indenização com valores irrisórios, alguns questionam o modo de negociação, a falta de diálogo. Enfim, o consenso, nesse ponto, parece bem difícil.

Um exemplo é a situação de quem mora (ou morava) na Rua Martins Sales, no Vila União. Parece que um furacão atravessou a via, às margens da ferrovia: dezenas de casas demolidas, ao chão, e algumas poucas em pé, fazendo a resistência, ainda na esperança de não serem retiradas de lá. Atualmente, as remoções acontecem no Vila União e na Rua Germano Frank, bairro da Parangaba. Das 559 negociações feitas, 553 renderam acordos e apenas seis seguiram para processos judiciais.

O clima é de despedidas na família Teófilo, no Vila União. Prova disso são as caixas de papelão espalhadas na varanda. Após negociação, familiares arrumam as malas, irão deixar o bairro que há tanto moram e já criaram raizes. O eletricista, José Wilson Teófilo, 56, não se conforma com a partida. Não queria sair da comunidade, teme sentir saudades, sofrer com a mudança. Vai ter que deixar o seu lar nesse fim de semana. O valor pago teria sido pouco, injusto. "Não está sendo nada fácil para ninguém. É difícil ver o bairro morrer assim de uma hora para outra, ver tudo se acabar por conta das obras", afirma.

A maior tristeza de Wilson é deixar a casa que ele mesmo ajudou ´a subir´. Logo agora que ele terminou de pagar as dívidas existentes por conta da reforma, 67 parcelas de R$ 700. "No dia que quitei minha casa, tive que me desfazer dela. Que triste". Ele até recebeu a indenização, mas conta que não deu para comprar uma nova morada. Ficará alojado, por enquanto, na casa de um dos filhos.

Denúncias

Se o senhor Wilson tem um rumo, outros tantos parecem perdidos. É o caso da dona de casa Jeane Inácio, 34. Moradora da rua Martins Sales, Vila União, ela diz não aguentar mais tanta pressão para a sua retirada. Ela segue ´ilhada´, as duas construções vizinhas já foram demolidas, sobra entulhos e temor sobre os próximos dias.

Segundo Jeane, técnicos lhe deram um prazo de 15 dias para deixar a casa após recebimento da indenização. Ela denuncia as ações de coerção que estão sendo feitas e narra que é comum a vinda de tratores na região. "Daí, os homens gritam para gente sair, dizem que se a gente não for embora eles passam as máquinas em cima. Um absurdo", diz.

Para Roger Pires, integrante do Comitê Popular da Copa, mesmo após as volumosas e indignadas manifestações que ocorreram na cidade, o governo do Estado não deu nenhuma resposta ao grito de diversas pessoas que deixaram claro que são contra as remoções. "Lutamos por remoções zero e não aceitamos essa intervenção nas comunidades tradicionais ameaçadas em favor de obras de um evento da Fifa", afirma Pires.

Conforme nota enviada pela Seinfra, algumas comunidades impediram que o trabalho fosse realizado, por não ter conhecimento das mudanças ocorridas no projeto que reduziram consideravelmente o número de desapropriações, como é o caso, por exemplo, da Estação Rodoviária que foi mudada de local. "No projeto inicial mais de 300 imóveis seriam atingidos e após a relocação da estação esse número caiu para, aproximadamente, 90 imóveis".

Conforme a nota, é preciso atentar que estas desapropriações dependem da elaboração de laudos técnicos para que sejam executadas. "Alguns desses estudos ainda não foram realizados por impedimento de algumas comunidades. Os laudos técnicos são elaborados de acordo com o projeto, obedecendo a mudanças que visem o menor impacto da população. De antemão, pode-se afirmar que serão desapropriados os imóveis localizados às margens da via férrea já existente e que tenham sido apontados como imprescindíveis para a obra", explica a nota.

SAIBA MAIS

Na Estação Parangaba, que será elevada e integrada ao terminal de ônibus, estão sendo realizados trabalhos de concretagem dos pilares. Seguem em andamento as obras de implantação do elevado da Parangaba, logo após a estação

Na obra da Aguanambi, no bairro de Fátima, no trecho situado ao lado do Comando da Polícia Militar, já foi concluído a implantação das colunas e berços, faltando apenas a colocação das vigas de concreto, já prontas no local

Na Estação Iate, no Mucuripe, estão sendo feitos os serviços de escavação, forma e armadura da fundação da estação, ecoramento metálico para contenção de aterro existente e concretagem da sapata do equipamento

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